A decisão nem sempre pode ser ideológica

Há muito tempo que venho defendendo, durante minhas aulas, palestras, consultorias ou mesmo em conversas informais, o não extremismo em relação a ferramentas computacionais, metodologias, frameworks de gestão de TI, modelos de licenciamento de softwares, dentre outros. Na prática, o extremismo é irracional por essência. É negar o fato de que não existem verdades absolutas, principalmente num universo de possibilidades que a tecnologia da informação nos apresenta hoje em dia.

Em miúdos, embora possam haver alguns leitores descordando de mim por questões basicamente ideológicas, acredito não haver espaço para xiismos quando o assunto é tecnologia. Nem todo software deve ser escrito em Java, nem toda aplicação precisa do Oracle ou pode ser gerida pelo MySQL. Nem todo cenário computacional pode ser suportado homogeneamente por Linux, nem todo servidor Windows é instável e inseguro por default e nem sempre a metodologia de virtualização ou cloud computing é a ideal. Estas idéias que sempre estão no 8 ou no 80 corroboram com decisões estratégicas precipitadas ou erradas em ambientes de TI modernos.

Gosto muito daquela celebre frase: “Dai a Cesar o que é de Cesar”. Em outras palavras, adapte a tecnologia as necessidades e níveis de entrega dos serviços de TI exigidos em cada cenário ou case. Nenhuma pessoa é igual à outra, assim como nenhuma organização é igual à outra (por mais parecidas que sejam). Não ouso deixar dicas neste contexto por aqui, mas se fosse obrigado a fazê-lo, diria: Avalie com cautela e imparcialidade as necessidades atuais e estratégicas do seu ambiente/projeto e utilize as técnicas e ferramentas que melhor se adequarem. Quando se está com dor de garganta não há indicação de comprarmos um “bandaid”, assim como ao cortar um dedo provavelmente você não comprará uma pastilha. Discernir as anuências de cada necessidade com visão holística é o que separa um bom profissional ou gestor de TI de mais um indivíduo na multidão.

Aproveitando o ensejo, cito um trecho do primeiro post do amigo Augusto Campos publicado no “novo blog” sobre tecnologia dentro da Globo.com:

(…) Embora haja um grupo bastante vocal que coloca a questão ideológica e política da liberdade de software como seu critério básico de escolha de softwares, esse não é o único grupo que prefere usar os softwares de código aberto: para muitos outros usuários a escolha é puramente pragmática, baseada em análise das funcionalidades, ou mesmo pelas subjetivas preferências pessoais que todos nós temos.

Um exemplo expressivo dessa atitude de tratar os softwares como ferramentas, e não como integrantes do tabuleiro de um complexo jogo político, vem do criador do Linux, o finlandês Linus Torvalds: embora não seja fã de softwares proprietários, e publique todos os programas de sua autoria na forma de código aberto, Linus prepara os slides de suas apresentações no PowerPoint da Microsoft, e sempre defende a busca da melhor ferramenta para cada tarefa – ainda que ela seja proprietária.

E o exemplo oposto também acontece: embora seja vista por alguns como uma grande inimiga da liberdade de software, a Apple há anos escolheu o compilador GCC, um software livre mantido pela Free Software Foundation, como peça-chave do desenvolvimento de seus próprios produtos, como o Mac OS X, e também o mantém como um dos integrantes básicos do kit de desenvolvimento que oferece a seus usuários, o XCode. Curiosamente ela vem investindo há anos em um substituto para o GCC neste papel: trata-se do compilador Clang, também em código aberto.

Para ler na íntegra o artigo do Augusto, basta clicar aqui.