O primeiro dia do Fórum Internacional de Software Livre em Porto Alegre-RS iniciou a todo vapor. Chegamos ao “checking” do evento por volta das 09:40 horas. O hall de entrada da FIERGS estava lotado, com filas respeitáveis, dignas de um evento que contou com mais de 4880 participantes oficiais. Enquanto se aguardava nas filas para a retirada do material base do evento (pasta, folders, umas poucas edições promocionais da Linux Magazine e o livro VIII Workshop sobre Software Livre), era possível se observar a chegada e movimentação de alguns dos principais palestrantes nacionais e internacionais. Na sua maioria carregando caixas com materiais que seriam usados tanto nos stands quando nas falas (como era o caso do Aaron Seigo – Projeto KDE, o pessoal da OLPC que desenvolve os famosos e comentados laptops de U$100 e até mesmo o Jon Maddog Hall – diretor-presidente da Linux International).
Aliás esse é um ponto altamente interessante de todos os FISL que já participei ou acompanhei a distância a cobertura. A relação entre participantes, expositores, palestrantes (badalados ou não) é sempre muito salutar, muito informal, acessível e “sem frescuras”). Todos altamente prestativos com o público em geral, sempre dispostos a parar uma conversa para tirar uma fotografia ou até mesmo trocar idéias (técnicas ou não) com qualquer um. Isso é sem dúvida um fato raro em eventos de TI em geral, que na sua grande maioria trata de forma “mmmmuuuuiiittttooooo” diferente palestrantes e participantes (incentivando um “firewall velado” entre ambos).
Na foto: Helano, Maddog e eu (o Dina estava fumando fora do saguão)🙂
O pequeno atraso na confecção e liberação das credenciais atrapalhou brevemento o início das palestras, que iniciavam-se oficialmente às 10:00 horas da manhã. Na verdade confesso a vocês, caros leitores, que já havia me esquecido o quão cansativa pode ser a rotina de querer acompanhar o maior número possível de palestras da grade oficial do FISL. São 09 palestras acontecendo simultaneamente, por hora, em salas separadas, com praticamente nenhum intervalo entre si e até às 21:00 horas. Logo na entrada da salão de acesso as salas das palestras era possível acompanhar o movimento, sempre intenso desde cedo, nos stands dos expositores (empresas, grupos de usuários e instituições públicas). Certamente um dos stands que mais causou interesse nos visitantes que chegavam sempre querendo ver tudo, ao mesmo tempo, foi o do pessoal da OLPC, que apresentava o laptop de U$100 – estudado pelo governo federal como uma alternativa a, por assim dizer, “digitalização do caderno convencional” para alunos e escolas públicas.Isso sem falar obviamente na Arena de Programação, onde vários programadores previamente inscritos e selecionados se infrentariam durtante todo o dia em desafios atrelados ao desenvolvimento de softwares e algoritmos específicos e os tradicionais stands de grupos de usuários (como de prache o Debian, Slackware, Ubuntu (visivelmente com um acréscimo de participantes o rodeando em relação ao FISL anterior, etc…).
A minha rota de palestras selecionada, dentre a grade disponibilizada pela organização do evento, procurou ser o mais abrangente e ao mesmo tempo seletiva possível. Confesso que algumas falas me decepcionaram (principalmente em relação a anos anteriores), esperava um pouco mais, principalmente no quesito “nível técnico e abordagem”. Algumas palestras me pareceram com títulos um pouco confusos e uma abordagem, digamos, “informal por demais”. Mas em geral os temas em si, nesse primeiro dia de evento, foram muito bem equacionados. Nesse sentido, gostaria de destacar aqui algumas falas que mereceram um destaque maior (seja pela escolha do tema, seja pela abordagem dada na fala ou pelo casamento entre o tema e o mercado em si):
A palestra do Karlisson de Macêdo Bezerra sobre Os padrões Web e a Acessibilidade na Internet mesclou o bom humor do palestrante com uma abordagem direta e de simples entendimento a qualquer que fosse o nível do participante. Basicamente a palestra falava sobre os padrões entendidos formalmente na internet quando do desenvolvimento de websites modernos, da falta de preocupação da imensa maiorida dos desenvolvedores com relação a estes padrões e sugiria a quebra do repositório (website) em camadas (conteúdo separado de design). Nada de exatamente muito inovador, mas a abordagem da palestra, as demonstrações práticas (usando plugins do firefox e outras ferramentas de código livre) fizeram a fala valer a pena.
Outra fala muito interessante foi do “quase” conterrâneo, Elton Luís Minetto, professor da Unochapecó, que falou sobre o CakePHP . O Cake é um framework para desenvolvimento de aplicações em PHP, com uma abordagem extremamente interessante: Dividir o código fonte em camadas para facilitar o desenvolvimento de aplicações em equipes multidisciplinares e permitir a alteração de folhas de estilos ou métodos sem se precisar alterar a parte de modelos (conexão), por exemplo. É sem dúvida alguma um dos frameworks, de código livre, mais interessantes com esse tipo de abordagem e vale com certeza uma boa olhada por parte de todos aqueles que desenvolvem orientadas a linguagem. Pessoalmente eu já conhecia do CakePHP, mas confesso que nunca o usei com a atenção devida e, o Elton foi mesmo muito feliz na abordagem e maneira expositiva com a qual conduziu a palestra.
Vale ressaltar a palestra do Leonardo Rodrigues de Mello, que falou de forma brilhante, para um auditório absolutamente lotado (gente sentada nos degraus e ocupando todos os espaços possíveis) sobre Consolidação de Serviços: Alta Disponibilidade e Balanceamento de Carga em Máquinas Virtuais. A fala veio coincidir com o lançamento do Guia de Estruturação e Administração de Ambiente de Cluster, da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação. Certamente a palestra de mais alto nível técnico e de conhecimento agregado deste primeiro dia de evento.
Por fim, gostaria de destacar aqui a fala do Prof. Mauro Tapajós Santos, que dentro de uma abordagem bem própria da vivência acadêmica, falou sobre “novas” aplicações livres para o gerenciamento de redes de computadores. Mesmo começando com um atraso totalmente anormal, a palestra foi muito feliz na forma como o assunto foi conduzido didaticamente, por assim dizer, pelo Prof. Mauro. Ele abordou em seu discurso ferramentas que de um certo modo são desconhecidas por boa parte dos administradores de redes (mesmo os que usam software livre cotidianamente) que permitem um gerenciamento em alto nível de complexos computacionais. Como destaque podemos citar o Zabbix, o JFFNMS, o Zenoss e o OpenNMS.
Embora este post tenha ficado um tanto quanto extenso, se fez necessário para tentar passar aos leitores parte do cansativo primeiro dia de FISL, pelo qual passamos. Agora, 03:25 horas da manhã do dia 13/04, enquanto boa parte dos hóspedes aqui do hotel dormem, tento finalizar esta resenha e ir dormir, afinal, daqui a pouco, o segundo dia de evento começa 🙂
Ainda em tempo, para os que quiserem acessar o arquivo completo das fotos que fizemos nesse primeiro dia de evento, no intuito de cobrir modestamente parte dos acontecimentos do FISL, basta clicarem aqui neste link 😉