Como todos os leitores assíduos aqui do blog devem saber, entre os dias 21 e 24 de julho, em Porto Alegre/RS, aconteceu o 11º Fórum Internacional de Software Livre. Como de costume, estivemos presente no evento acompanhando algumas palestras e circulando pelos stands de empresas e grupos de usuário que populavam o salão do centro de eventos da PUC.
Sem querer tornar este post muito redundante em relação a outros resumos publicados na internet ou muito longo e chato, farei alguns apontamentos que julgo mais importantes acerca dos acontecimentos dos FISL11:
A organização:
Este ano realmente a organização do evento estava melhor. Embora tenha uma porção de gente que questione esta minha afirmativa, pessoalmente acho que ao longo dos últimos 11 anos a organização melhorou significativamente. A empresa contratada para auxiliar palestrantes e expectadores durante as falas mostrou-se muito mais solícita e organizada que em anos anteriores. Os palestrantes, por sua vez, também procuraram cumprir os horários máximos estipulados, tanto para os discursos quanto para as perguntas. Os pontos negativos neste item ficaram por conta dos stands que não abriram no primeiro dia (havia um evento de odontologia na PUC anteriormente e segundo a organização, não deu tempo de montar os stands) e a transferência de sala de última hora de algumas palestras (o que as vezes é inevitável, mas sempre prejudica um pouco o evento).
A não existência de filas kilométricas no primeiro dia pela manhã denunciava um número menor de participantes este ano (a organização fala em 7.511 participantes, vindos de 16 países – pessoalmente não percebi este número), mas facilitou a vida de quem estava lá para pegar suas credenciais e circular entre as palestras. Além das credenciais, como de costume, o participante recebia material publicitário de patrocinadores do evento e alguns brindes. O ponto negativo aqui fica por conta do estilo da pastinha deste ano, de plástico e sem alças, nada prático para quem tinha que ficar circulando com ela pelo evento.
A rede Wi-fi, como sempre, foi um problema. Embora melhor do que em anos anteriores (ouvi relatos principalmente de quem ficou nos stands de que estava perfeita e que conseguiram conexão durante todo o evento), muitos participantes abriam redes “clandestinas” e poluíam o espectro. Resumindo, conexão banda larga quase impossível em boa parte dos dias de evento (um problema pra quem precisa). Tudo contornado para os que possuíam um modem 3G, obviamente!
Algumas constatações:
Foi-se o tempo em que o FISL era um evento feito por nerds e para nerds. Se alguém tinha alguma dúvida a respeito, a edição deste ano fez questão de dirimi-la. Os stands “comerciais”, cada vez mais disputados por empresas e órgãos do governo, estavam literalmente lotados de brindes e atrativos antes raros e inexistentes. Dentre eles podemos citar as máquinas de café expresso, as balinhas e bombons e a presença de mulheres “muito bem vestidas” dividindo a atenção com propaganda de produtos e serviços – tudo lembrando mais um salão de automóveis do que o velho FISL de outrora (não que eu esteja reclamando, obviamente – veja o título aí em cima, é apenas uma constatação).
Outra constatação inevitável é a queda de qualidade, na média, das palestras. Obviamente que tivemos algumas palestras muito interessantes (e aqui só posso falar das que participei, claro) como é o caso da fala do sempre aclamado John “Maddog” Hall (falando sobre o seu projeto Cauã) e do brasileiro João Eriberto Mota Filho (que praticamente explicou o funcionamento dos protocolos TCP/IP e o modelo OSI em 50 minutos), mas tivemos muita coisa ruim e fraca. Algumas palestras com enfoque distorcido e outras que não explicitavam seu conteúdo no título. O emblemático Richard Stallman foi uma ausência percebida e sentida – reza a lenda que ele não compareceu ao evento cumprindo o que disse durante o FISL10, no ano passado, quando várias pessoas abandonaram a palestra dele que coincidia com o jogo da seleção brasileira de futebol.
Aliás, muita gente estava um pouco perdida porque “comprava” uma determinada palestra pelo que entendia do título e não se dava ao trabalho de ler o conteúdo prévio. Isso poderia ser resolvido com um flag contendo o nível da palestra (iniciante, intermediário, avançado) marcando a programação do evento. Esta sugestão já dei em outras oportunidades e facilitaria a didática do fórum.
O balanço:
Apesar de vários pesares, o FISL continua sendo o maior encontro da América Latina de usuários, empresas e estatais que usam e desenvolvem software livre e, a sua “profissionalização”, se é que podemos chamar assim o fato de termos cada vez mais stands com enfoque comercial no evento, é uma prova mensurável disso. Os corredores continuam sendo, por várias vezes, um dos melhores espaços para se trocar idéias sobre aquela tecnologia que você está usando ou para conhecer pessoalmente aquelas pessoas que você só encontra em fóruns e listas virtuais. Por fim, os voluntários que realizam a organização do evento estão novamente de parabéns – afinal organizar um evento do tamanho do FISL não é nada simples e nestes casos alguns pecados são totalmente perdoáveis.