Desde ontem a noite, quando a notícia da determinação judicial para bloqueio do WhatsApp por parte das operadoras de telecom saiu, não consigo parar de pensar na música da Maysa: Meu mundo caiu! Eu posso enumerar dezenas de conhecidos (e usuários WhatsApp) que se encaixariam perfeitamente no enredo desta letra que fez muito sucesso na década de 60. Muita gente simplesmente não consegue mais “sobreviver” sem acessar o aplicativo – que é usado por cerca de 93% dos brasileiros que tem smartphone, segundo pesquisas. É fato também, que muita gente incorporou o app como ferramenta de trabalho e este tipo de bloqueio costuma causar muitos prejuízos.
Mas porque a justiça mandou bloquear o WhatsApp?
Bom, agora muitas teorias surgem. Você vai encontrar algumas dezenas delas pela Internet (aqui apenas uma para ilustrar). A verdade é que trata-se de uma determinação judicial correspondente a um caso que segue em segredo de justiça, então, oficialmente, não há uma versão totalmente confiável. De todo modo, a explicação mais racional e aparentemente mais coerente, foi dada em uma matéria do Olhar Digital:
“Uma reportagem do Conjur informa que o processo gira em torno de um homem preso pela Polícia Civil de São Paulo em 2013 sob as acusações de latrocínio, tráfico de drogas e associação ao Primeiro Comando da Capital, ou PCC – facção criminosa que age nos presídios do Estado.
Como o WhatsApp entra nesse rolo? Acontece que durante as investigações a Justiça solicitou que o Facebook passasse dados de usuários do aplicativo. A determinação foi feita em julho e reiterada em agosto; como não houve cumprimento, o Ministério Público pediu o bloqueio temporário do serviço e deu no que deu.”
Como é possível tecnicamente bloquear o WhatsApp no meu celular?
Veja, o aplicativo não foi bloqueado no seu celular. A ação não ocorre no app instalado localmente no seu smartphone. O WhatsApp, a exemplo de praticamente qualquer programa de mensagem, funciona no modelo cliente x servidor. Isso quer dizer, que o app em si, não faz muita coisa de útil além de servir como interface para enviar e ler mensagens, fotos e fazer ligações de voz. Todo o tráfego e processamento é realizado nos servidores do WhatsApp e, portanto, tecnicamente as operadoras de telefone podem interromper qualquer tráfego entre seus usuários e os servidores do aplicativo.
Vale lembrar também que a ação teve uma grande adesão por parte das operadora de telefonia móvel e fixa (e por consequente dos provedores locais que compram links de dados destas operadoras), porque a determinação judicial foi encaminhada para o SindTeleBrasil – o Sindicato das empresas de Telecom. Órgão, que aliás, protocolou pedidos de cassação da liminar ainda no dia de ontem.
VPN NÃO é um appzinho que faz funcionar o WhatsApp!
VPN é um conceito, uma metodologia de interconexão entre usuários ou empresas que pode rodar sob links de dados compartilhados ou dedicados, de modo a prover comunicação com camadas de criptografia de dados, autenticação e tunelamento. Em outras palavras, VPN é um acrônimo, que representa uma “Rede Virtual Privada”. Esta tática é utilizada há muito tempo e é extremamente útil quando você precisa se conectar de forma segura à servidores e redes geograficamente distantes, por meio de links comuns de internet.
Agora, com o bloqueio temporário de parte das operadoras de telefonia móvel e fixa aos servidores do WhatsApp para clientes brasileiros, muita gente vem usando aplicativos clientes (Hotspot Shiel Free VPN, Betternet, etc…) para se conectar a intermediários (servidores de VPN fora do Brasil) para então conseguir usar normalmente ao WhatsApp – Já que a proibição vale apenas para usuários brasileiros (fora daqui o app funciona como sempre).
O problema aqui é que isso é uma deturpação perigosa da ideia de VPN. Tome muito cuidado antes de seguir posts e dicas pela Internet que ensinam a usar este tipo de aplicativo pra voltar a ter acesso ao WhatsApp. Lembre-se que NÃO são apenas os pacotes do aplicativo de mensagem que vão ser encaminhados pelo túnel VPN. Você pode estar vazando todo o tráfego de dados pessoal para servidores desconhecidos sem ter certeza sobre a criptografia. Em outras palavras, não se surpreenda se amanhã tiver dados ou até mesmo fotos e arquivos seus publicados na internet!
Quais opções ao WhatsApp?
O WhatsApp tem quase 900 milhões de usuários hoje no mundo. Em termos de rede social, só perde para o Facebook (com um pouco mais de 1bilhão de usuários) atualmente, mas deve passá-lo muito em breve. Logo, não é simples você deixar de usa-lo, já que seus contatos estão todos lá. Mas existem uma séries de aplicativos alternativos ao WhatsApp, dentre eles vale destacar: Telegram, Viber e ZapZap.
Atualização 17h30: Passado o ‘rebuliço’ que este bloqueio momentâneo do WhatsApp causou, nada melhor que analisar o amparo legal e as conclusões técnicas que podemos ter com o episódio. Não vou me atrever a escrever nada neste sentido, uma que a Veja tomou a iniciativa de entrevistar Ronaldo Lemos, um dos idealizadores do Marco Civil da Internet. Achei as ponderações feitas por Lemos absolutamente concluintes em relação ao que se passou. Vale leitura! 😉