Por Jackson Laskoski
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RESUMO
Mais do que nunca, se discute abertamente o custo total de propriedade na área de TI. Com o advento e a crescente popularização de modelos de desenvolvimento e distribuição de softwares alternativos ao software proprietário, uma nova e aguda reflexão acerca da problemática se faz necessário. Assim sendo, no decorrer deste artigo procuramos discutir brevemente alguns dos principais aspectos, sob uma visão administrativa, do TCO no momento da aquisição e/ou desenvolvimento de um determinado software. Não é objetivo deste documento discutir em amplitude e complexidade todos os aspectos existentes sobre a temática, não tem a menor pretensão de se transformar em um texto altamente completo e definitivo. Procura apenas, lançar mão de discussões acerca do tema proposto de forma a contribuir com a visão crítica do leitor.
1. INTRODUÇÃO
Qualquer estudante de contabilidade, em início de curso, conhece o conceito de TCO (Total Cost of Ownership – Custo Total de Propriedade). Segundo Simanski (2000), TCO pode ser definido como um modelo do ciclo de vida de um equipamento, produto ou serviço – que considera os custos de aquisição, propriedade, operação e manutenção ao longo de sua vida útil. Além disso, o TCO também inclui os valores associados ao uso ou gozo do bem/serviço em seu máximo potencial. Itens como treinamento de usuários, manutenção regular, auditoria, avaliação, implantação, pós-venda e gerenciamento dos processos de desenvolvimento/fabricação do bem/serviço também constituem o Custo Total de Propriedade. Que pode ser aplicado tanto para o “vendedor” ou para o “consumidor”.
Como podemos observar o conceito de TCO não é novo para a grande maioria dos administradores de empresas e principalmente para aquelas organizações que utilizam métodos de custeio em seus processos produtivos e/ou de prestação de serviços. Podemos dizer inclusive, que de certa forma, o custo total de propriedade já era usado pelas organizações, ainda que parcialmente, antes mesmo de ser “homologado” ou reconhecido como tal. Contudo, uma constatação: Nunca se falou tanto em TCO na área de TI (Tecnologia da Informação) como atualmente. Isso parece intensificar-se mediante a evolução das discussões, por certas vezes calorosas, acerca dos principais tipos de licenças de uso e aquisição de softwares que hoje existem.
O TCO sempre foi erroneamente ignorado pela maioria das empresas de tecnologia, tanto pelas que desenvolvem soluções como principalmente por aquelas que as adquirem. Prova disso é que é muito comum encontrarmos atualmente gerentes de TI adquirindo soluções (softwares) levando em consideração única e exclusivamente a questão custo direto de aquisição, quando se sabe que existem muitos outros aspectos que precisam ser levados em consideração, a respeito do que efetivamente é o conceito de TCO. Softwares não são produtos, são serviços e precisam ser considerados como tais. Além do custo de aquisição da ferramenta, tem-se adequação/compra de hardware, treinamento/contratação dos usuários, disponibilidade de suporte técnico, escalabilidade, custos com migrações, impacto genérico no ambiente computacional e atrelamento “monopolítico” a determinadas empresas quando o software é proprietário.
Desde 1991, com o surgimento do GNU/Linux e uma maior e crescente exposição do conceito de software livre e seus “afluentes”, assim como o reconhecimento de outras leis de licenças e distribuição de softwares (GPL, BSD, etc..) pelo grande público técnico, muitas discussões “fervorosas” começaram a sugerir no âmbito da questão: Quem tem um menor TCO? Softwares Livres ou Proprietários? É basicamente sob esta temática que desenvolveremos este pequeno artigo. Tentaremos demonstrar de forma objetiva as principais “vertentes conceituais” que permeiam este tipo de discussão, com o máximo de isenção possível.
2. AS PESQUISAS
De acordo com Gross (2003), recentemente uma pesquisa contratada pela Microsoft, empresa líder mundial de desenvolvimento de softwares proprietários, e realizada pelo IDC divulgou um estudo comparativo em relação ao TCO do sistema operacional MS Windows 2000 (software proprietário – licenciado sob a Shared Source) e o GNU/Linux (sistema livre – licenciado sob a GPL) focando obviamente os custos para as empresas que desejassem adquirir/obter e implantar uma das soluções em seu parque computacional. A pesquisa, um tanto quanto tendenciosa, apontou que o MS Windows 2000 era de 10% a 11% mais barato que o GNU/Linux ao longo de cinco anos. No mesmo instante periódicos do mundo todo não tiveram dúvidas em publicar notícias de capa seguindo o estilo: Software Proprietário é mais barato que Software Livre.
Contudo, se pararmos para analisar friamente e de forma isenta, veremos que a pesquisa (que pode ser observada aqui: http://www.microsoft.com/windows2000/docs/TCO.pdf), analisou de forma genérica um conjunto não maior de 6 cenários distintos e de baixa complexidade. Um deles, inclusive, demonstrou um custo total de propriedade inferior quando o GNU/Linux era adotado. A grande pergunta que fica é: Se o GNU/Linux é um software aberto e o MS Windows um software pago/proprietário, como uma pesquisa para demonstrar TCO pode apontar a ferramenta da Microsoft como a mais viável? – A resposta é simples: Segundo o próprio IDC, cerca de 60% do custo total de propriedade de ferramentas que são utilizadas para gerenciamento e operacionalização de complexos de redes de computadores, é correspondente a recursos humanos. Afinal, mais importante que implementar soluções coorporativas (para redes de computadores, no caso analisado) é mantê-las funcionando. Segundo a pesquisa, administradores de sistemas Linux são mais caros e raros no mercado que administradores Windows. Por isso da disparidade entre os TCOs.
De encontro a esta pesquisa, um outro estudo foi lançado e divulgado. Este segundo realizado e tabulado pelo RFG (Robert Frances Group) comparando o TCO entre o MS Windows, o GNU/Linux e o Solaris (sistema operacional proprietário – desenvolvido pela Sun Microsystems). De acordo com os resultados, apesar do solário individual de administradores Linux experientes ser maior que a média dos salários de administradores Windows ou Solaris, eles seriam capazes de administrar, em média, 44 servidores simultaneamente (devido as características de administração remota das ferramentas), enquanto administradores Windows não conseguiriam mais do que 9 servidores simultaneamente, em média. Já os administradores de redes Unix (Solaris) não administram mais do que 15 servidores correlatos. A pesquisa pode ser vislumbrada em: http://www.ibm.com/linux/RFG-LinuxTCO-vFINAL-Jul2002.pdf
Como podemos observar as pesquisas “pipocam” na internet, revistas especializadas, jornais, propagandas diversas e até na TV. Mais do que nunca aquele velho provérbio que diz: “Não acredite em tudo que lê” – deve ser levado em muita consideração. Calcular o custo total de propriedade quando o assunto é aquisição de softwares não é nada simples, mesmo quando os envolvidos são dois modelos tão distintos de distribuição de ferramentas, como é o caso dos softwares proprietários e livres. Não existe uma palavra, uma resposta definitiva e, literalmente, cada caso é um caso. Deve ser analisado crítico, isenta e profundamente. “A verdade é que TCO pode, sim, facilitar análises e decisões, mas cada caso é um caso. Sem o contexto que envolve a utilização dos servidores na Empresa, fica muito difícil tirar conclusões em cima de estudos deste tipo. Além do mais, nada substitui o talento: a experiência dos profissionais de TI para saber onde estão escondidos os verdadeiros custos”. Junkes (2002).
3. OS XIITAS
Como em tudo na vida, quando o assunto é filosofia de desenvolvimento de software, principalmente envolvendo relação Software Livre X Software Proprietário, existem sempre os extremistas. Pessoas que simplesmente não aceitam o meio termo, ou melhor, não o reconhecem. Não que sejam ignorantes, muito pelo contrário, estamos falando de alguns dos cérebros mais desenvolvidos do planeta, a questão é que tomam “partido religioso” acerca de determinados conceitos e raramente mudam suas opiniões. São mais fundamentalistas que profissionais. É comum encontrarmos artigos, principalmente na internet, completamente tendenciosos (tanto para um lado quanto para outro). Pessoas que simplesmente abominam ferramentas pagas e outras que não podem nem ouvir falar de software livre. Apegam-se a preferências de uso e a questões técnicas mas esquecem que além de ferramentas tecnicamente viáveis e de funcionários felizes, as organizações também precisam de saúde financeira. Eis a eterna busca pelo meio termo!
Autores como o brilhantíssimo Sugar (2004) ilustram muito bem este cenário, quando diz que: O que TCO (Total Cost of Ownership – Custo Total de Propriedade) realmente significa em relação a software comercial de computador? Não é o mesmo como propriedade de um ativo tangível. Eu possuo um Chevy 1.967 — Eu tenho um direito de propriedade que diz isso, e todos os direitos e responsabilidades de propriedade que naturalmente vêm com ele. Eu posso computar o que eu paguei para adquirir e manter esse bem em condição utilizável.
Não há propriedade envolvida em software proprietário, porque todos os usuários são meros licenciados. Usuários são, na melhor das hipóteses, inquilinos, e o termo mais correto e apropriado deveria ser TCU (Total Cost of Usage – Custo Total de Uso), uma vez que agora o software comercial é freqüentemente vendido em alugueis.
De fato Sugar não deixa de ter uma certa razão em sua afirmativa irônica. Entretanto, nem sempre organizações de todos os tamanhos, com ambientes computacionais complexos ou necessidades específicas podem utilizar exclusivamente software aberto. É verdade que o método de licenciamento e venda dos softwares proprietários, mais do que nunca, vem se tornando cada vez mais abusivo, mais monopolítico. Todavia, a solução definitivamente não é o abandono total de ferramentas proprietárias ou o esquecimento induzido dos conceitos relativos ao TCO. Afinal de contas, migrar radicalmente (de tecnologias proprietárias para livres ou vice-versa) um ambiente tecnológico dentro de uma empresa, mesmo quando isso é possível tecnicamente, pode ser extremamente traumático e custoso. Neste caso o custo total de propriedade não é direto em relação ao software, mais sim em relação ao contexto que o mesmo está envolvido.
4. CONCLUSÕES
No artigo que segue, procuramos apresentar de forma prática, direcionada e objetiva algumas poucas questões que envolvem o TCO (custo total de propriedade) quando o assunto é escolha ou aquisição de softwares, com ênfase nos modelos de distribuição proprietário e livre que se destacam atualmente. Como vimos, mais do que nunca, se discute abertamente o custo total de propriedade na área de TI. Com o advento e a crescente popularização de modelos de desenvolvimento e distribuição de softwares alternativos ao software proprietário, uma nova e aguda reflexão acerca da problemática se faz necessário.
Não se pode mais admitir aquisições fundamentadas apenas em modismos, preferências de uso ou viabilidades técnicas. É preciso também, do ponto de vista administrativo, se atentar aos custos totais que envolvem todo e qualquer processo de aquisição e até mesmo desenvolvimento de uma aplicação. Gerentes de TI que não se conscientizarem disto, certamente estão com suas carreiras à perigo e, certamente comprometerão a saúde financeira de suas respectivas organizações.
Deixamos de lado aqui análises técnicas que também se aplicam sobre os modelos discutidos. Nos concentramos em dosar os conceitos apenas no campo administrativo da questão e encerramos este pequeno texto com apenas uma certeza: Não existe uma só forma, solução viável ou receita padrão para se identificar em primeira instância o TCO de quaisquer softwares. Não há verdade definitiva. Cada caso é um caso, cada aquisição, migração ou desenvolvimento de um determinado programa de computador precisa ser individual e friamente analisado. Quando a opção a ser analisada é um software livre precisamos nos cercar de muito mais coisas que seu simples download: Existe assistência técnica formal? Quanto vai custar treinar meus funcionários? É compatível com o resto de minha infra-estrutura? E se o seu desenvolvimento comunitário parar? – Já quando a análise é sob uma solução proprietária: Este valor de aquisição direta é realmente justo? E quanto aos concorrentes? Vou ficar atrelado a esta empresa prá sempre (dependência técnica)? Ficarei preso em leis de licença que jamais me darão chance de migrar minha estrutura? O contrato de prestação de suporte/consultoria é justo? Pare, pense, elenque todos os prós e contras, faça os cálculos e as projeções. Leia bastante, mas não acredite em tudo que está escrito e não seja um Xiita.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARNETT, Mathew F.; et. al. Desvendando o TCP/IP. São Paulo: Campus, 1997.
Bozman, Jean. Windows 2000 Versus Linux in Interprise Computing. Disponível em: http://www.microsoft.com/windows2000/docs/TCO.pdf. Acesso em: 02, mai. 2004.
Gross, Grant. Linux TCO Edge: Lower Labor Costs. Disponível em: http://techupdate.zdnet.com/techupdate/stories/main/0,14179,2907876,00.html. Acesso em: 03, mai. 2004.
Junkes, Eduardo. TCO: Mitos e Realidade. Disponível em: http://techupdate.zdnet.com/techupdate/stories/main/0,14179,2907876,00.html. Acesso em: 02, mai. 2004.
RFG: Linux TCO. Disponível em: http://www-1.ibm.com/linux/RFG-LinuxTCO-vFINAL-Jul2002.pdf. Acesso em: 03, mai. 2004.
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